Gustavo Barroso.
Moços do meu Brasil,
O crepúsculo que Barbusse previu logo
depois da grande guerra alastra pelo mundo as suas sombras tristes. O
liberalismo impotente e hipócrita agoniza. O credo comunista cria duas
humanidades, declarando que nem a morte apaga o antagonismo entre o operário e
o burguês. Mais horrendo que o fantasma das discórdias civis, se ergue o
espectro da guerra das classes. Ao embate das contradições, o nosso país corre
para o naufrágio. Só a mocidade, que é o futuro, lhe resta como tábua de salvação,
somente ela é capaz de renová-lo, como, ao som da Giovinezza, reformou a
Itália, consertou Portugal e redimiu a Alemanha.
Do alto das serranias do meu pátrio
Ceará, quando o sol inclemente das secas combure os esqueletos das caatingas e
todo o sertão imenso se alonga nu e preto, as copas verdes dos juazeiros úteis
e heroicos, cuja sombra abriga a rês sequiosa e o vaqueiro emagrecido, cuja
rama e cujo fruto alimentam o gado e o retirante, pontilham a desolação. Quanto
mais a estiagem se prolonga, quanto mais a canícula dos longos dias de estio
calcina a terra infeliz, e mais cresce a solidão, e mais aumenta a agonia, mais
viçoso, mais belo, mais senhoril e mais verde pompeia o juazeiro, como um
estandarte de Esperança!
Sede como o juazeiro, moços do Brasil!
Sede como o juazeiro, eretos, varonis e sempre cheios de fé, tanto mais eretos,
mais varonis e mais cheios de fé quanto mais cresçam as dores, e aumentem as
provações e se multipliquem as dificuldades!
Meu olhar se espraia pelos largos
horizontes da Pátria e avista as negras nuvens que ficaram para trás, e os
nimbos escuros que se adensam à nossa frente. A complexidade dos problemas
nacionais desafia o esforço da geração nova. Na vasta planície lamacenta dos
preconceitos e da inércia, das chatices e dos conchavos pessoais, os moços
idealistas, ainda não contaminados pelas baixezas do ambiente, são os úteis e
heroicos juazeiros verdes em que residem as derradeiras esperanças do Brasil,
moços de hoje, homens de amanhã, construtores da futura sociedade.
Unicamente vós podereis opor
barreiras intransponíveis ao alude das maiorias incapazes e aos assaltos das
minorias estéreis que guerreiam a arte e a ciência, que combatem os mais altos,
nobres e sagrados ideais humanos, pretendendo reduzir o panorama das pátrias a
pântanos peçonhentos ou monótonas estepes moscovitas. Somente a mocidade poderá
salvar o mundo.
Falo-vos com o coração, do meio do
caminho de minha vida, em que não pratiquei um ato de que me possa envergonhar.
Falo-vos com a convicção duma doutrina e com a força dum idealismo construtor.
São já demasiadas as ruínas que enchem a superfície da terra. Antes de descer a
ladeira sombria da montanha que trabalhosamente subi, sorrio de prazer, porque
avisto por cima da paisagem causticada de sol, agitados ao vento da manhã
radiosa, os verdes e gloriosos estandartes da mocidade!
(Transcrito na íntegra da página 07
até a 12 do Livro “O Integralismo em Marcha”. 1. ed. Rio de Janeiro: Schmidt,
Editor. 1933.)
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