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Gustavo Barroso |
Gustavo Barroso
O Integralismo não é um partido político, nem de modo algum
deve ser confundido com qualquer partido político. Os partidos representam
interesses parciais dum grupo de eleitores organizados à sombra dum programa
destinado à duração dos mandatos daqueles que elege. O Integralismo põe o
interesse da Nação acima de todos os interesses parciais ou partidários e
se guia por uma doutrina, não por umprograma.
Programa é um projeto ou resolução daquilo que se pretende fazer em um tempo determinado. Doutrina é
um conjunto de princípios filosóficos, morais e científicos no qual se baseia
um sistema político por tempo indeterminado. A diferença é
essencial. Uma doutrina dá origem à incalculável número de programas.
Um programa não produz nenhuma doutrina.
- Se não é partido, que é, então, o Integralismo? –
perguntarão todos quantos se viciaram em compreender a política como simples
jogo e manejo de partidos.
O Integralismo é uma Ação Social, um Movimento de Renovação Nacional em
todos os pontos e em todos os sentidos. Prega uma doutrina de
renovação política, econômica, financeira, cultural e moral. Prega essa doutrina,
completa-a e a amplifica constantemente com seus estudos, e prepara os homens
capazes de executar as medidas dela decorrentes. Abrange, nos seus postulados,
indagações e finalidades, todas as atividades nacionais. Bate-se, não por um
programa partidário regional ou local, - autonomista,
evolucionista, constitucionalista, partido republicano mineiro, partido
republicano paulista, partido democrático, etc.; mas pela construção duma
Grande Pátria dentro duma doutrina que contenha princípios
definidos desde as concepções do Mundo e do Homem até às dos fatores materiais
econômicos.
Isto é uma Política, da qual decorre uma administração.
Os partidos somente são capazes de chegar até um programa
de administração. O Integralismo constrói uma Doutrina Política,
em consequência da qual poderá formular inúmeros programas de administração.
Por isso, o Integralismo não compreende e não quer o Brasil partido,
dividido: dum lado, o povo alistado em dezenas e mesmo centenas departidos,
votando em milhares de legendas que subpartem os partidos,
sempre contrário ao governo, como se este fosse seu pior inimigo; dum lado, o
povo iludido pelos politiqueiros, contrapondo-se ao Estado que o esfola com os
impostos; do outro, esse Estado manobrado pelo partido que
dele se apoderou por meio do voto, oscilando ao sabor das forças paralelas a
ele – corrilhos eleitorais ou financeiros, etc., tornado meio de
satisfazer apetites, quando deve ser um fim para satisfazer o
bem público; mas compreende e quer o Brasil - Unido, isto é, o Brasil -
Integral, com o Estado e a Nação confundidos num todo indissolúvel.
O Estado não deve ser somente o governo, a administração dum
país. A Nação não deve ser somente a comunidade dos indivíduos unidos pela
origem, pela raça, pela língua ou pela religião sob o mesmo regime político. A
Nação e o Estado devem integrar-se num corpo só, na mesma associação de
interesses e de sentimentos, confundindo-se na mesma identidade e para os mesmo
fins.
Na Doutrina Integralista, a Pátria Brasileira deve ser uma síntese do
Estado e da Nação, organizada sobre a base corporativa. A sociedade humana não
vale somente pelo que apresenta aos nossos olhos; vale muito mais ainda pelo
que nela existe e não conseguimos ver, isto é, as forças ocultas do seu Passado
e do seu Espírito. Os homens prendem-se ao Passado através de seus ascendentes,
cujas características essenciais herdam, cujas conquistas morais, intelectuais,
técnicas e materiais lhes são transmitidas como um verdadeiro patrimônio. Essa
herança é a civilização e nela as gerações que se sucedem são solidárias.
Compostas de homens, as Nações ligam-se ao passado pelas suas tradições
de toda a espécie. Enraizada nelas é que a Pátria Brasileira deve florescer no
Presente para frutificar no Futuro.
O regime corporativo une os sindicatos de trabalhadores, de técnicos e
de patrões, coordena seus esforços e transforma-os de organismos políticos de
luta em organismos políticos, sociais, econômicos, morais, educativos, de
equilíbrio e de cooperação.
A fim de realizar o que pretende, o Integralismo não apela, como os
extremistas, para a brusca subversão da ordem social e conseqüente inversão de
todos os seus valores, para os atos de banditismo, vandalismo ou terrorismo,
para bombas de dinamite e atentados pessoais, para sabotagens e greves que
ainda mais precária tornam a situação do pobre operário; mas para o valor do
próprio homem, sua dignidade de ser pensante, suas virtudes patrióticas, suas
reservas morais, sua tradição religiosa e familiar, seu amor pelo Brasil, sua
crença em Deus!
Querendo a grandeza da Pátria Brasileira, o Integralismo por ela se bate
em todos os sentidos. Essa grandeza somente pode alicerçar-se na alma das
massas trabalhadoras de todo o país, libertadas ao mesmo tempo da exploração
econômica do capitalismo sem pátria e da exploração política dos caçadores de
votos ou dos extremistas fingidos, que falam em nome de operários e camponeses
sem serem nem operários, nem camponeses.
Pelo Integralismo, a grandeza da Pátria Brasileira se fará pela renúncia
dos interesses pessoais em favor dos interesses nacionais, a pureza dos
costumes públicos e privados, a simplicidade da vida, a modéstia do proceder, a
integridade da família, o respeito à tradição, a garantia do trabalho, o
direito de propriedade com seus deveres correlatos, o governo com autoridade
moral e mental, a unidade intangível da Nação e as supremas aspirações do
espírito humano.
Integralismo quer dizer soma, reunião, integralização de
esforços, de sentimentos, de pensamentos, ao mesmo tempo de interesses e de
ideais. Não pode ser um simples partido. É coisa muito mais
elevada. É um movimento, uma ação, uma atitude,
um despertar de consciências, um sentido novo da vida,
a marcha de um povo que desperta!
Batendo-se pela felicidade do Brasil dentro das linhas de seus grandes
destinos, condicionadas pelas suas realidades de toda a ordem, o Integralismo
quer que o pensamento dos brasileiros não se divida e enfraqueça na confusão de doutrinas ou programas;
quer que se una e some ao influxo de uma mesma doutrina político-social.
Porque essa base doutrinária é imprescindível para a construção do ESTADO
INTEGRAL BRASILEIRO, ESTADO HERÓICO pela sua capacidade de reação e de
sacrifício, ESTADO FORTE pela sua coesão, sem fermentos desagregadores dentro
de si, no qual, como fator indispensável de independência, se tenha processado
a emancipação econômica e, como condição principal da unidade da Nação, tenham
desaparecido as fronteiras interestaduais.
Para a realização de tão grande obra política, econômica e social, o
Integralismo tem de combater sem tréguas e sem piedade toda a repelente
imoralidade do atual regime de fraudes, enganos, corrupção e promessas vãs, bem
como todo o materialismo dissolvente da barbárie comunista que alguns loucos apontam
como salvação para nosso país. O atual regime pseudo-liberal e pseudodemocrático
é um espelho da decadência a que chegou o liberalismo, que procurou dividir a
nação com regionalismos e separatismos estreitos, implantando ódios entre
irmãos, atirados às trincheiras da guerra civil; com partidos políticos
transitórios que sobrepõem as ambições pessoais aos mais altos interesses da
Pátria e pescam votos, favorecendo os eleitores com um imediatismo
inconsciente, em que tudo concedem ou vendem, contanto que atinjam as posições.
Esse regime fraco e vergonhoso escravizou o nosso Brasil, o pouco
capital dos brasileiros e o trabalho das nossas populações abandonadas ao
banqueiro internacional por um criminoso sistema de pesados, aladroados e
sucessivos empréstimos externos, cuja funesta e primeira consequência é o
esfolamento pelos impostos.
O comunismo que agitadores estrangeiros, aliados a brasileiros vendidos
ou inconscientes, inimigos da Pátria, nos prometem, quer a destruição das
pátrias, da propriedade e da família, a proletarização das massas e a
materialização do homem em todos os sentidos. Tirando ao indivíduo suas crenças
e tradições, sua vida espiritual e sua esperança em Deus, sua família – que é
sua projeção no Tempo -, e sua propriedade – que é sua projeção no Espaço -,
arranca-lhe as forças de reação, todos os seus sentimentos, deixa somente a
fera humana e prepara-o, assim, para definitiva escravização ao capitalismo
internacional disfarçado em capitalismo de Estado.
O Povo Brasileiro debate-se em verdadeira angústia econômica e anseia
por novo padrão de vida; debate-se numa completa desorganização de sua
existência pública e almeja nova forma de justiça social; debate-se em
formidável anarquia de valores e na incultura geral, e precisa formar sem detença
homens escolhidos que possam resolver os grandes e graves problemas da Nação.
Urge a transferência completa do Brasil para salvá-lo, novo conceito de
vida, novo regime, novo quadro de valores. Essa transformação completa, integral da
Sociedade Brasileira fatalmente terá de ser o resultado duma transformação
completa, integral da Alma Brasileira no sentido do rigoroso
cumprimento de todos os deveres para com a Família, para com a Pátria e para
com Deus.
A lição de Jacques Maritain manda a Razão submeter-se a Deus, que é
Espírito, e à Ordem Espiritual por Ele instituída.
Só uma Revolução Moral pode produzir uma grande, digna e benéfica
Revolução Social. Porque esta é projeção daquela. Por isso, a Doutrina
Integralista afirma que a primeira revolução do Integralismo é a Revolução
Interior.
(Transcrito das
págs. 9 até 16 de “O que o Integralista deve saber”. 1ª edição. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1935, 214 págs.)