Miguel Reale |
“...era um companheiro admirável. Alto, de porte
marcial, parecia ter nascido para comandante da milícia, a cujos desfiles
assistia com olhos saudosos dos heróis que cultuara em suas pesquisas
históricas, ostentando no peito as condecorações que o envaideciam. Quando,
porém, se tinha a fortuna de conhecê-lo na intimidade, o que deparávamos diante
de nós era um homem simples e afável, com muito do recato da vida sertaneja.
Nas longas viagens pelo ITA, contava-nos eles casos e mais casos do Nordeste ou
da Guanabara, com uma verve espontânea e aliciante, assim como gostava de
referir-se aos estudos históricos que haviam desfeito falsas glórias das armas
argentinas ou uruguaias, nas guerras platinas, restituindo valores devidos ao
exército brasileiro. De um patriotismo exemplar, entrara para o Integralismo
seduzido pelo ideal nacionalista, assim como pelo amor que dedicava aos valores
da ordem e da hierarquia na luta contra o comunismo, que ele inseria no quadro
de um combate universal à "conspiração judaica". Como me opunha a
alguma de suas ideias, chamava-me de "judeuzinho", mas, no fundo, era
um sentimental, incapaz de compartilhar com as futuras atrocidades de Hitler
contra o povo israelita”.
REALE, Miguel. Memórias: Destinos Cruzados. São Paulo: Saraiva,
1987. Pág. 99.
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