Os Companheiros Robson Peixoto, Eduardo Ferraz e Sérgio de Vasconcellos junto ao Busto de Gustavo Barroso, no Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro, 20/01/2008) |
Gustavo Barroso
O Integralismo
bate-se contra dois regimes, duas forças, dois inimigos, que parecem contrários
um ao outro, que aparentemente se chocam, mas que na essência são irmãos, se
entendem, se combinam muitas vezes por trás dos bastidores. Uma dessas forças é
simplesmente o inverso da outra. Ambas não passam do positivo e do negativo da
mesma chapa fotográfica. São o capitalismo e o comunismo.
O capitalismo
destrói a propriedade do maior número em benefício da posse nas
mãos de pequeno número; destrói a pátria com a finança internacional, o capital
que emigra ao sabor de suas conveniências, sem se sacrificar por este ou aquele
país, obediente ao lema: "o dinheiro não tem pátria"; destrói a
família pelo luxo, a orgia, os gozos, a perda da noção de honra ante o poder do
dinheiro; destrói Deus com a sua concepção materialista da existência, a
adoração do Bezerro de Ouro, o mamonismo.
Vivendo de explorar
a maioria da sociedade, arranca-lhe as últimas migalhas para aumentar seus
proventos e fica indiferente, inerte, ou simplesmente limitado a uma caridade
formalista e cabotina, diante do sofrimento dos trabalhadores. Isso gera a
revolta dos que têm fome e veem os filhos com fome. A ostentação do luxo e do
sensualismo irrita os deserdados da sorte. O exemplo da incredulidade e do
ceticismo nacional os invade
Então, o
capitalismo que grou todas essas destruições, na sua ânsia de possuir, além do
poder do ouro, conjuntamente, o poder político e dominar o mundo, assopra, às
massas que tornou rebeldes e descrentes, como único remédio às suas dores o
ideal comunista: destruição definitiva da propriedade pelo capitalismo de
Estado; destruição definitiva da família pelo amor livre, o aborto oficial e a
entrega dos filhos ao Estado; destruição definitiva da pátria pela sua inclusão
numa União Soviética pertencente a uma Internacional numerada, o comunismo é
internacional como o capitalismo; destruição definitiva da ideia de Deus pelas
campanhas pró-ateísmo.
Vê-se claramente
que o comunismo não reage contra o capitalismo, como falsamente apregoa. Antes
pelo contrário. Quintessência seus princípios. Torna definitiva as destruições
que ele iniciou. Conclui os arrasamentos. Completa-o. Coroa-lhe a obra.
Essa obra é a obra
de dominação universal. Ela se processa por dois flancos contra a sociedade moderna.
Dum lado, avança o capitalismo internacional com a artilharia pesada dos
empréstimos, da usura, das concessões, dos monopólios que arrancam a última
camisa dos povos. Do outro, vem a cavalaria cossaca do comunismo internacional,
que escravizará os povos inteiramente ao desabrigo, com a matança das elites,
com o terrorismo asiático.
O capitalismo
internacional é o capitalismo dos grupos financeiros. O comunismo internacional
é, como pontificou Lenine, o "capitalismo de Estado". Este nasce
daquele, amplia-lhe a órbita de influência e ação. No capitalismo, os grupos
têm somente o domínio do dinheiro com o qual influenciam o governo, o poder. No
comunismo, os grupos se apoderam do Estado, além do dinheiro, ficando também de
posse das proles, dos indivíduos escravizados, de todos os meios de produção,
da riqueza dos países. Ao proletário, o capitalismo deixou ao menos
a prole; o comunismo até a prole lhe arranca.
Sendo complemento
do capitalismo, o comunismo não pode ser remédio preciso para a angústia social
de nosso século. Mascara-se de reação tão somente. Eis porque, aprofundando bem
a questão, se verifica que o capitalismo não é visceralmente contrário ao
comunismo. O remédio é o Integralismo que combate os dois e é combatido pelos
dois.
Por que esse combate
sem piedade?
Imaginemos que um
dia os bacilos de Koch tivessem imprensa diária, com matutinos graves e
vespertinos que tirassem oito ou nove edições, iludindo o público com seus
títulos enormes e vazios. Que faria em primeiro lugar essa imprensa? Cerradíssima
campanha contra os específicos contrários ao micróbio da tuberculose, contra o
pneumotórax, os fortificantes, os sanatórios, o clima de Davos e Campos do
Jordão. Naturalmente. Não cairia na tolice sem par de elogiar o micróbio da
peste branca, muito menos a própria enfermidade. Mas trataria de demonstrar a
defeituosa manipulação dos remédios, a ineficácia dos fortificantes, os
defeitos dos sanatórios, os inconvenientes do pneumotórax e a insalubridade de
Davos e Campos do Jordão.
A imprensa amilhada
procede do mesmo modo. Ela não cai na esparrela de elogiar os usurários
capitalistas e comunistas; porém apregoa, adulterando os fatos e os textos, os
defeitos e perigos do Integralismo. Ora, afastada da competição a doutrina
integralista, que resta hoje em dia ao cenário social? O liberalismo e o
comunismo. Toda a gente está farta de saber que o liberalismo já deu o que
tinha de dar, está morto e cheira mal. Então, logicamente, a obra de derrotismo
da imprensa contra o Integralismo é obra de incentivo comunista. Mais uma vez,
capitalismo e comunismo estão de parceria, embora aparentemente se finjam
adversários.
A única reação
possível contra o capitalismo-comunismo é o Integralismo. Porque, em primeiro
lugar, afirma Deus como a suprema norma moral do Universo. O fiel
regulador do Bem e do Mal não pode ser entregue ao homem ou às instituições
humanas, que são variáveis e contingentes no tempo e no espaço. Imutável e
eterno, ele somente pode estar fora da humanidade. Não há, pois, moral sem Deus.
Não havendo moral, não pode haver justiça social e, se não há justiça social,
não há pão para todos.
Quando o comunista
brada por pão, exige um simples fundamento material, o menos que
pode exigir. Quando o Integralista afirma Deus afirma o mais, afirma o princípio
único de que decorre aquele fundamento.
Porque, em segundo
lugar, assegura a propriedade, resultado do trabalho honesto, condenando a posse,
às vezes legal e na maioria dos casos ilícita, dos bens mal adquiridos. A
propriedade é a projeção do homem, no espaço, do mesmo modo que a família é a
projeção do homem no tempo. Essas projeções são inerentes à sua natureza e se
completam. O erro liberal está em conceder ao homem somente direitos de
proprietário sem exigir-lhe os deveres que o habilitam a esses direitos. O erro
comunista está em abolir esses direitos. O Integralismo reconhece uns em função
dos outros, proclama-os e garante-os.
Porque, em terceiro
lugar, afirma a família como base natural e eterna da sociedade, o primeiro
grupo humano, o grupo biológico, que variou nas formas, conforme, conforme os
ciclos culturais, mas que foi invariável na essência. Da família nasceu a
tribo, da tribo a cidade ou a nação. Nos povos primitivos, as cidades e as
nações guardavam a memória das tribos e as tribos, a das famílias, iniciais. Vede-as
em Roma; vede o culto às famílias iniciais de Ba-Hô, na velha China. Afirmar a
família é mais do que afirmar somente a liberdade, como fazem certos
comunistas. O indivíduo isolado torna-se fraco. Reunido a outros, fortalece-se.
Se essa união, além de outros laços, tem os do afeto e do sangue, mais forte se
torna, sobretudo moralmente. A família é, pois, o núcleo basilar da liberdade
moral do homem. Mergulhado na massa comunista, o indivíduo se torna
um divíduo, uma parcela sem personalidade. Quem não tem
personalidade não pode ter liberdade, porque liberdade é afirmação. Afirmação é
consciência. E a personalidade do homem se reforça, apoia e emoldura na
família.
Quando o comunista
brada por liberdade exige o menos, exige uma simples função. Quando o
Integralista afirma a família, afirma o máximo, afirma o órgão capaz dessa
função.
Porque, em quarto
lugar, afirma a pátria como uma comunhão dum território e do espírito dum povo,
uma comunhão de interesses materiais, de sentimentos, de dores, de esperança,
de anseios, de alma, - o casamento dum solo e dum povo, na frase de Renan. A
pátria é a posse de um chão, posse material e moral. Sem essa posse, não é
possível garantir terra a nenhum filho do mesmo país. A terra internacionalizada
é de todos os povos.
Quando o comunista
pede terra, pede o menos, a superfície arável, plantável, trabalhável, capaz de
produzir searas ou pastos. Quando o Integralista afirma a pátria, afirma o
máximo, a terra em superfície e em profundidade, em toda a sua força
material de produção e com toda a sua força moral de projeção no passado e para
o futuro, a terra adubada com as cinzas de seus antepassados.
Combater o capital
- hipertrofia do indivíduo, hipertrofia do grupo, hipertrofia da sociedade
anônima, hipertrofia da finança internacional, hipertrofia, afinal, do Estado
com o Capitalismo de Estado de Lenine, é um trabalho de Hércules. O
Integralismo não se arreceou de meter ombros à empresa. É por isso tão anticapitalista
quanto anticomunista.
(Publicado originalmente no Livro de
Gustavo Barroso, O Espírito do Século XX, [1. ed.], Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1936. Transcrição feita do Periódico "O
Integralista", do Rio de Janeiro.)
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