Sérgio
de Vasconcellos
O Integralismo foi oficialmente fundado em 07 de Outubro de
1932, data em que foi divulgado o “Manifesto de Outubro”. Não abordarei a
gênese da redação desse Documento – o mais importante da História do Brasil
republicano – pois, disso tratei em outro lugar
.
Importante ponto, de que também não tratarei esta tarde, mas, que é bom destacar
mesmo assim, é o de que as Idéias Integralistas do Manifesto já estavam todas
presentes em Escritos anteriores de Plínio Salgado
.
Aqui, reunidos para Homenagear o Chefe Nacional Plínio
Salgado, vou, paradoxalmente, falar sobre... Gustavo Barroso. Ainda sob a
impressão da Homenagem recentemente prestada pela ACCALE – Associação Cívica e
Cultural Arcy Lopes Estrella -, no Rio de Janeiro, por conta dos 130 anos de
nascimento do Autor de “Brasil – Colônia de Banqueiros”, onde, apesar de orador
principal, minha palestra ficou muito aquém do que eu queria e do que merecia
Gustavo Barroso, não consegui me desvencilhar da certeza que estava devendo aos
Integralistas algo mais substancial sobre a Vida e a Obra de João do
Norte. Evidentemente, não seria esta a ocasião, numa Homenagem ao Chefe, o
lugar e o momento apropriados para estender-me sobre aquele que continua sendo
o segundo teórico do nosso Movimento, o que não fui capaz de fazer a altura na
Solenidade de 15 de Dezembro de 2018, dedicada a sua Memória. Vou me limitar a
expor algumas opiniões, ou, pontos de vista, se preferirem, de Gustavo Barroso
sobre Plínio Salgado e o Integralismo.
O ingresso de Gustavo Barroso no Integralismo, já o narrei
anteriormente
, e não
vou reapresentá-lo. Assinalarei, no entanto, que o encontro histórico de
Barroso com o Sigma teve dois momentos: Primeiro, o teórico, quando, em fins de
1932, Ovídio Cunha entregou-lhe um exemplar do Manifesto; o segundo, impelido
pelo que lera no Documento de Fundação do
Integralismo, ao comparecer, no início de 1933, a uma Conferência de Plínio
Salgado, no Rio de Janeiro. No primeiro momento abraça a Doutrina da qual foi
adepto até o final de sua vida; no segundo, inicia uma sólida amizade com
Plínio Salgado, que se prolongou ininterruptamente até a Transferência de
Barroso para a Milícia do Além, e uma admiração irrestrita pelo Autor de “A
Quarta Humanidade”.
O ínclito Gustavo Barroso escreveu uma dúzia de Livros
Integralistas e um incalculável número de Artigos, proferiu incontáveis
Palestras e Conferências. Vou basear-me nos Livros – e não exaustivamente -,
pois, o levantamento completo de seus Discursos, Palestras, Conferências e
Entrevistas ainda está por ser feito.
A filiação de Gustavo Barroso ao Integralismo foi um
momento existencialmente enriquecedor. Estando na culminância de sua fama,
nacional e internacional, e
julgando
mesmo estar numa etapa derradeira, “do meio do caminho da minha vida”, “antes
de descer a ladeira sombria da montanha a que trabalhosamente subi”, como ele
mesmo disse
, o
Integralismo vai permitir-lhe iniciar um novo período em sua história pessoal.
Para o Integralismo em si, também foi enriquecedor, pois a adesão de Barroso
repercutiu em todo o Brasil e no exterior.
Sem exagero, afirmo que Barroso não se fez Integralista,
ele se descobriu Integralista. Toda a nossa Doutrina já estava latente em seu
interior, esperando sair à superfície. Foi o choque provocado pela leitura do
Manifesto de Outubro que permitiu o desabrochar daquele Ideal latente, e que
estava em perfeita sintonia com o Pensamento Magistral de Plínio Salgado.
Aliás, um dos aspectos mais notáveis da Doutrina
Integralista, desde os textos iniciais de Plínio Salgado e demais próceres do
Movimento, passando por todas as décadas até nossos dias, é a uniformidade
doutrinária. O que diziam Plínio Salgado, Barroso, Reale, Tasso da Silveira,
etc., nos anos 30; Gumercindo Rocha Dorea, Helio Rocha, Ibsen Marques e outros
da Geração Águia Branca, e o que está pregando na atualidade esta fantástica
floração de novos Intelectuais do Sigma, tendo a frente o brilhante Companheiro
Victor Emanuel Vilela Barbuy, é o mesmíssimo conjunto de Idéias, a mesma teoria
social política e econômica, a mesma Filosofia e Método. Todos os que já
tiveram o prazer de compulsar mais atentamente a nossa Literatura, têm plena
certeza da Coerência do Pensamento Revolucionário Integralista.
Todavia, para a
cabal e definitiva demonstração do que afirmo, far-se-ia necessário a
elaboração de um trabalho que bem poderia denominar-se, por exemplo,
“Concordância Integralista”, onde, através do cotejo e colação dos Autores Integralistas,
ficaria provado que todos estão propondo a mesma Idéia, a Idéia Integralista.
Lamentavelmente, ultrapassaria muito os estreitos limites desta palestra uma
tal empreitada. Permanecerei naquilo que propus inicialmente, isto é, expor os
pontos de vista de Barroso sobre Plínio Salgado e o Integralismo.
Barroso emprestava tal importância ao Manifesto de Outubro,
que o reproduz no seu clássico “O que o Integralista deve saber”, antecedendo-o
das seguintes palavras:
“Esse movimento de
idéias destinado a realizar no Brasil novo Estado, nova Ordem Social, de
acordo com as realidades nacionais, foi publicamente lançado em S. Paulo, no
mês de outubro de 1932, por Plínio Salgado, num Manifesto hoje célebre, que
nenhum Integralista deve ignorar.
“Terminara, então, a revolução chamada constitucionalista. O sangue duma heróica mocidade ainda fumegava
na terra úmida das trincheiras. Daquele grande sacrifício alguma coisa de novo
devia brotar. De novo e grande.
“Justa reação contra a indiferença e o desânimo geral da
Nação, esse Manifesto, sem partidarismo político e sem sectarismo religioso,
marcou o primeiro passo duma Marcha Histórica para um Brasil mais forte, mais
amado e mais respeitado, portanto para um Brasil Maior”
.
Em outra Obra foi mais conciso: “O Integralismo Brasileiro
nasceu com o Manifesto de Outubro de 1932, de Plínio Salgado, que de há muito
vinha pregando suas idéias nacionalistas em São Paulo”
.
Para que tenham uma nítida idéia dos móveis profundos de sua
filiação ao Sigma ouçam o seguinte:
“O Integralismo é compreensão. Só quem compreende a
doutrina integralista pode ser integralista consciente. Há muitos modos de
compreendê-la. Há a compreensão pelo estudo de seus pontos básicos e a
comparação com o liberalismo e o comunismo. Há a compreensão pela graça do
sentimento. E há ainda, a maior compreensão, a compreensão pelo amor”
.
E depois de parágrafos fantásticos, termina dizendo:
“Justamente por ser amor é que o Integralismo é construção.
Somente quem ama é capaz de construir. O ódio é destruição. Reparai como nas
épocas da decadência social, de materialização, de materialidade, toda a
criação desaparece do cenário intelectual, em que unicamente florescem, se
florescem, os cardeiros da crítica. O crítico analisa, disassocia, joeira,
separa, divide, não produz, não reúne, não cria. Incapaz de organizar e de
criar, esforça-se por demonstrar que é
capaz de esmiuçar defeitos e corrigir, para se apresentar capaz de alguma
coisa. Quando as águias de Roma começaram a fechar as asas, apareceu um Luciano
de Samosata. Quando se carregavam os canhões para a Grande Guerra, apareceu um
Anatole France. E que faz toda essa barulhenta e vazia imprensa de hoje?
“Cria? Não. Critica tudo, critica todos, acaba criticando a
si própria.
“O Integralismo é o amor pelo Brasil, o desejo de vê-lo
grande, próspero, feliz, poderoso. É a criação dum sentido novo da vida para
chegar a esse fim. E somente é possível essa criação pela educação e pelo
ensino. Não é possível ensinar e educar, odiando. Ensina-se e educa-se, amando.
“Dentro do movimento integralista, portanto, o integralista
não deve criticar, mas suprir. Suprir os defeitos dos companheiros. Suprir as
falhas dos próprios chefes. Supri-las sem que os próprios supridos dêem por
isso. No Integralismo, o movimento está acima dos indivíduos, as idéias sobrelevam
as pessoas. Na sua profundes cristã, o seu amor não se personaliza: é amor ao
próximo seja ele quem for”
.
O Integralismo é compreensão e amor. Que teoria política,
naquela época ou hoje, pode ser sintetizada por tal binômio? Só o
Integralismo.
Radica-se aí a irrestrita
admiração de Gustavo Barroso por Plínio Salgado, manifestada em diversas
ocasiões, como, por exemplo, na dedicatória de “A Palavra e o Pensamento
Integralista”: “A Plínio Salgado, Chefe e Amigo, admiração!”
.
E nesse mesmo livro, o Chefe das Milícias vai dizer:
“Como no dia do Riachuelo, aos ventos núncios de combates
sem tréguas, palpitam e falam-vos novamente as bandeiras. Sobre a história do
Brasil contemporâneo, Plínio Salgado arvorou um pavilhão que os brasileiros
nunca tinham visto e que os encheu, a uns de ódio, a outros de admiração e de
fé. Foi o pendão azul e branco marcado pelo Sigma. Agitado pela nervosa e
ascética mão do Chefe Nacional, ele tremulou despertando as primeiras coortes
de Camisas Verdes (...)”
.
Ecoando as palavras do Chefe Nacional em “Sentido e Ritmo
da Nossa Revolução”
e
em “Técnica de Sorel e técnica de Cristo”
,
vai afirmar:
“Eis a razão do Sigma, que simboliza a somação, a
integralização de tudo o que deva ser levado em conta para a organização
natural da sociedade. E daí o que diz o Chefe Nacional e repetem os nossos
doutrinadores: a nossa revolução é a maior de todas as revoluções, porque
começa dentro de nós mesmos”
.
“Pregando, segundo a palavra do Chefe Nacional, a técnica
de Cristo em contraposição à técnica de Sorel, isto é, a Revolução Interior
contra a Revolução Exterior, a Revolução Espiritual contra a Revolução
unicamente Política ou Econômica, o
Integralismo afirma o Amor”
.
E vai dizer-nos peremptoriamente em outro de seus
importantes livros:
“O grande filósofo Bunsen escrevia em
pleno século XIX: “Somente os grandes espíritos são capazes de pregar a ordem
moral nas épocas de escravidão política e de hipocrisia”. O Chefe Nacional
é, incontestavelmente, um grande espírito que
prega essa Ordem Moral (...)”
.
Comentando o famoso final do discurso que
Plínio Salgado pronunciou diante das Cortes do Sigma (1937), que reproduziu no
seu “Integralismo e Catolicismo”, diz tachativamente: “Somente um Grande
Chefe
pode pronunciar tão grandes
palavras! Grandes e raras nesta época de indefinições espirituais”
.
E páginas adiante:
“O Integralismo é um Movimento cristão.
Isto tem sido dito e repetido à saciedade pelo Chefe Nacional em discursos e
artigos. Se assim é, o Integralismo tem suas bases filosóficas e morais na
doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, nos Evangelhos.
“O Integralista, embora não seja católico
e nem todos os integralistas são católicos, nem o Integralismo é um Movimento
católico, porque não é um Movimento religioso, sim moral, social e político; o
Integralista deve ler os Evangelhos e meditar sobre eles. Nas suas folhas
milenárias, encontrará a esperança de melhores dias, o amor da virtude
necessário à salvação da pátria, a consolação das agruras presentes, a
paciência para suportar os golpes da adversidade e o ensinamento constante de
todas as coisas.
“Tenho sempre presente na memória, e a
maioria dos camisas verdes não o podem ter esquecido, aquele artigo em que, há
tempos, o Chefe Nacional nos dizia as palavras do Horto: -
orai e vigiai! Sim, o integralista precisa orar a Deus para que Ele
se amerceie do nosso país invadido pela lepra da politicagem, tomado pelo
materialismo, (...), manietado e corrompido pelo capitalismo internacional,
(...), ameaçado pelo cataclisma da subversão comunista”
.
Barroso, antecipando-se a uma discussão
que está na moda na atualidade, insere o Integralismo naquilo que poderia se
entender uma terceira posição:
“O liberalismo isolou o homem no
individualismo e somente o considerou como cidadão eleitor. O comunismo submerge-o
no oceano da massa e o transforma em parafuso com estômago e libido dum
maquinismo social. O mundo inteiro sente a imprescindível necessidade duma
síntese que combata essas análises unilaterais. No duelo travado entre
burgueses e operários, os verdadeiros intelectuais entram com uma terceira
forma de justiça social. Karl Marx não previu esse aspecto da luta de classes.
Sua doutrina coordena os valores sociais dispersos e os canaliza para alto fim
humano. Suas primeiras manifestações chamaram-se fascismo e nacional
socialismo. Sua expressão mais completa chama-se integralismo”
.
No entanto, sempre se colocando adiante do seu tempo – o que é uma
característica Integralista – e, certamente, inspirado no “A Quarta
Humanidade”, de Plínio Salgado
,
ele escreve o surpreendente “O Quarto Império”
,
no qual assegura-nos que: “O Chefe Nacional do Integralismo Brasileiro teve a
intuição perfeita desse quarto estado social”
.
Donde podemos concluir que, o Integralismo contem a terceira posição e a supera
pela quarta, pela Quarta Humanidade ou pelo Quarto Império.
Gustavo Barroso atribui até mesmo
qualidades quase proféticas a Plínio Salgado: “A voz do Chefe Nacional anunciou
que diríamos uma palavra nova ao mundo. Nenhum integralista duvida que o que o
Chefe diz se realiza; (...)”
.
Não obstante essa admiração irrestrita
por Plínio Salgado, que vimos documentando, Barroso, atento a própria lição do
Chefe no célebre “Elogio da Ausência”
,
vai externar os limites em que se deve circunscrever a disciplina e a mística
em torno do Chefe Nacional:
“O Integralismo exige um juramento de
fidelidade e obediência à sua Doutrina encarnada no Chefe Nacional. “O Chefe –
declara Plínio Salgado – não é uma pessoa, é uma idéia”. Essa idéia está
consubstanciada num homem e não é possível defendê-lo com risco de sua própria
vida sem um compromisso de honra expresso em juramento solene. Ele é básico
para a nossa disciplina. Por ele nos comprometemos a sacrificar interesses,
ambições e inclinações de ordem pessoal pelo êxito de uma grande causa. Nessas
condições, como exigir obediência se não houver um compromisso voluntário de
obedecer? Ele é a afirmação categórica do princípio de autoridade.
“Segundo a nossa fórmula, o Integralista
jura “por Deus e por sua honra” trabalhar pela Ação Integralista Brasileira,
executando, sem discutir, as ordens do Chefe e de seus superiores hierárquicos.
Impossível será admitir que alguém entre em um movimento como o nosso sem se
comprometer a dar-lhe seu esforço e cumprir o que lhe for ordenado em prol desse
movimento. O principal no juramento integralista, como o Chefe já frisou de
público, é trabalhar pela Ação Integralista Brasileira, não passando a execução
das ordens de obrigação decorrente. (...)”. E, parágrafos adiante, acrescenta:
“A Ação Integralista Brasileira não é um movimento de caráter religioso e sim
um movimento sadio de renovação social e de organização política, limitado por
diretrizes definidas. “No dia em que os Chefes Integralistas – escreveu Plínio
Salgado – se afastarem dessas diretrizes, ninguém está obrigado a
obedecer-lhes”. De fato, se o Chefe ordenar a um Integralista crente que abjure
sua fé, que pratique atos contra a moral, é óbvio que nenhum juramento o força
a obediência, visto como o Chefe teria faltado primeiro a seus compromissos e
deveres os mais sagrados”
.
E elucida mais ainda a questão em outra
Obra:
“O Integralismo não faz plataforma. Ele
apresenta um corpo de doutrina, declarando: entendo o universo desta forma, o
homem desta, a sociedade desta, a economia desta, etc. Dessas minhas maneiras
de entender essas coisas decorrem as organizações e os sistemas com que serão
resolvidos os problemas atinentes a cada uma. Não vou resolver problemas para
agradar eleitorados ou para cumprir promessas, porém vou resolvê-los, porque
sua resolução resulta do meu modo de encará-los e compreendê-los.
“Esses problemas se impõem de há muito à
consciência nacional. Não foram resolvidos,porque os observaram de pontos de
vista falsos, quer só teoricamente, quer só pragmaticamente. O Integralismo os
aprecia dum ponto de vista fundamental, doutrinário, profundo. E eis porque os
poderá resolver na verticalidade, enquanto o liberalismo se perdia na
horizontalidade.
“Dessa atitude nova – destemor, fé, afirmação;
dessa doutrina nova - princípios, meios, finalidades definidas para o Homem e
para o Estado, naturalmente resulta uma mística política, que envolve a pessoa
do Chefe Nacional e a aureola.
“É preciso compreender essa mística para
não confundi-la com uma espécie de fanatismo ou sectarismo impregnado de
qualquer tônus religioso. O Chefe é humano, cheio de defeitos e de erros como
qualquer homem, mas ele encarna, como chefe, a idéia que gerou o movimento. O
misticismo que se projeta sobre a sua pessoa visível visa a idéia invisível.
Ele não é o fundador de religião, mas o criador de uma nova concepção social e
política. Fundador de religião, a palavra de Deus ecoaria pela sua boca e uma
parcela do divino poder por ele se transmitiria. Criador duma concepção social
e política, exprime a realidade nacional através do seu gênio. É a força dessa
concepção que gera a mística integralista”
.
A adesão de Barroso é tão radical, que
ele o vai dizer sem ambigüidades: “Estou dentro da Doutrina e da Palavra do
Chefe Nacional.
Et nunc, et semper!”
.
E deixa-nos um alerta, muito atual para
os nossos dias:
“Nós surgimos à voz de Plínio Salgado,
com o Manifesto de Outubro, com uma nova consciência da Pátria despertada por
uma nova filosofia da história e informada nos princípios fundamentais da
civilização cristã.
“É preciso, pois, que os Camisas
Verdes
se não deixem levar por maviosos
cantos de sereias e saibam conscientemente que a Revolução Integralista é
nossa, unicamente nossa, nem reproduzindo, nem se encadeando a outras
revoluções de ruas, de quartéis, de navios, de partidos, de ambições
individuais, de grupos econômicos, de sindicatos financeiros ou de corrilhos
políticos”
.
No início sustentei que Barroso aderira
ao Movimento porque ficara vivamente impressionado pelo conteúdo do Manifesto
de Outubro. Como prova cabal, lerei, a seguir, trechos de um capítulo chamado
“Doutrina” de suas “Reflexões de um Bode”:
“O Integralismo repousa doutrinariamente
no Manifesto de Outubro. Quanto mais se lê, mais se examina e mais se esmiúça
esse magnífico documento fundamental, mais riqueza doutrinária nele se encontra
sintetizada. É a semente maravilhosa de toda a floração da doutrina
integralista. E forçoso é reconhecer no seu autor, Plínio Salgado, uma
inspiração providencial.
“Na pureza de sua doutrina, reside toda a
força do Integralismo. Um movimento de tamanha amplitude espiritual como o
nosso, de tamanha projeção social e geográfica, retira de sua pureza
doutrinária a sua unidade, isto é, a sua consciência coletiva. Desde que
qualquer uma das folhas duma árvore deixa, por um defeito funcional qualquer,
de receber a seiva vivificadora pura ou a recebe eivada de quaisquer
substâncias envenenadoras, murcha, amarelece e cai, indo apodrecer no abandono
e no anonimato. É o que ocorre no movimento integralista com todos aqueles que
se afastam da pureza da doutrina: terão o fim lastimável das folhas secas.
“(...)
“Em
luta constante contra o individualismo liberal e todas as forças anti-nacionais
e anti-cristãs, o Integralismo naturalmente tem de estar alicerçado na rocha
firme de sua doutrina, consubstanciada no Manifesto de Outubro e sintetizada
unicamente na pessoa do Chefe Nacional. Condenando as mentiras demo-liberais e
marxistas, o Integralismo pretende realizar uma Ordem Social e Política
hierarquizada, do Município à Nação, uma Democracia Orgânica, Harmônica e
Racional, como diria Santo Tomás de Aquino. Para essa obra formidável, precisa
impor um pensamento uniformizado, um consenso, uma consciência nova.
“(...)
“Bem hajam, pois, os que interpretam com
segurança e defendem com ardor o pensamento puro da Ação Integralista, dentro
do culto de obediência ao Chefe
Nacional. Talvez a primeira palavra de nossa doutrina seja – Disciplina -. Essa disciplina começa por
ser disciplina espiritual.
Σ
Σ Σ
“A Revolução de 1930 começa perguntando
ao Brasil inteiro: - Que é que há?
“Triunfante, a Revolução respondeu à sua
própria pergunta com a famosa frase lamatineana: - “O Brasil é um deserto de
homens e de idéias”.
“Reflexo do mal-estar que lavrara no
país, mal-estar privativo dos regimes liberais democráticos, em que a soberania
da nação se dilui diante da soberania dos grupos políticos e econômicos, o
movimento de 1930 não trazia consigo um corpo de doutrina e, por isso, se não
desenvolveu em lineamentos e diretivas seguros. Mas quebrou os velhos quadros
políticos que emolduravam a Nação e, por isso, podia permitir a eclosão duma
ação baseada numa ideologia que consultasse as verdadeiras realidades
brasileiras. Esse anseio nacional teve um intérprete, Plínio Salgado, e a sua
palavra nova despertou as energias dum novo Brasil, no Manifesto de Outubro de
1932, quando, ainda com o sangue quente da mocidade paulista derramado nas
trincheiras do vale do Paraíba, os políticos liberais faziam acordos e conchavos.
“Palavra nova de tempos novos, o
Evangelho Integralista trouxe ao Brasil desunido e em guerra a esperança de um
futuro melhor. A mocidade, que, minada pelo extremismo moscovita ou em plena
disponibilidade doutrinária, presa do pragmatismo e do ceticismo, resvalara
para as fileiras dos inimigos da Pátria, exploradores vis do seu idealismo, viu
como que acender-se nas trevas do horizonte o farol denunciador do seguro
porto.
“Poucos foram os que acudiram ao
chamamento patriótico do Chefe Nacional; mas as suas fileiras engrossaram a
pouco e pouco; e hoje há uma maravilhosa floração de camisas verdes sobre a
vasta extensão da terra brasileira! Sangram os pés dos Integralistas nos agudos
espinhos semeados à sua passagem; um fio de sangue marca a sua caminhada desde
Bauru, a Meruóca e a Praça da Sé, até as matas do Espírito Santo, os pampas do
Rio Grande, os vales catarinense e as ruas de Campos. Os régulos os perseguem.
A calúnia e a inveja mordem-lhes os calcanhares. A marcha triunfal do
sacrifício prossegue na lenta construção do Brasil-Integral, desafiando as
forças ocultas e aparentes do Anti-Brasil.
“Nunca nos anais de nossa vida política
nacional um documento produziu tamanho movimento de homens e de idéias,
resposta magnífica do Espírito Brasileiro à pergunta ansiosa da Revolução de
1930. Nunca um pedaço de papel transformou de tal modo o sentido da nossa
existência nacional. Nunca um grito de alarma despertou mais promissoras e
audazes energias.
“(...)
“A palavra de Plínio Salgado ensinou os
brasileiros de boa vontade a querer e a saber o que querem”
.
Alonguei-me em demasia, reconheço e peço
desculpas aos presentes pelo excesso, porém, antes de encerrar, uma última
citação de Gustavo Barroso, que calha como uma luva nestes tempos em que vemos
nosso amado Brasil dividido politicamente entre uma direita asquerosa e uma
esquerda repulsiva, onde profeticamente nos orienta em meio ao lodaçal da falsa
vida política nacional:
“O Integralismo é congregação de
energias, de forças criadoras, de valores
positivos, de fatores de civilização, de sentimentos nacionais, de
sacrifícios pessoais; de atividades definidas, de elementos morais e sociais; é
a negação e o combate às doutrinas unilaterais; é a recusa de desviar-se para a
Direita ou para a Esquerda e o imperativo categórico de caminhar para a Frente,
de olhar para a Frente, (...)”, e mais adiante reforça:
“Somos a palavra e a ação dum Brasil novo
que se levanta, desperto do torpor da politicagem, resolvido a caminhar para a
Frente no sentido de suas próprias forças criadoras, desprezando as teorias
mortas da Direita e não prestando ouvidos às tentações das teorias falsas da
Esquerda”
.
Pelo Bem do Brasil!
Anauê!
* Este trabalho deveria ter sido lido na Solenidade Comemorativa dos 124 anos de de nascimento de Plínio Salgado, realizada em São Paulo, em 26 de Janeiro de 2019. No entanto, dificuldades insuperáveis impediram-em de comparecer à Homenagem.