Gustavo Barroso
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Ao internacionalismo individualista
do século passado, quer permita a hipertrofia do indivíduo isolado ou em grupos
com o capitalismo, quer dissolva o indivíduo na massa, deixando-lhe somente os
interesses individuais, com o bolchevismo, sucede o universalismo personalista
das doutrinas denominadas fascistas, as quais, na essência,
respeitam a liberdade e a dignidade da pessoa humana, e se universalizam pelo
seu espiritualismo. (...).
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De todos os movimentos de caráter fascista, e
assim os denominamos por falta de expressão mais apropriada para a sua
generalidade, o Integralismo Brasileiro é o que contém maior dose de
espiritualidade e um corpo de doutrina mais perfeito, indo desde a concepção do
mundo e do homem à formação dos grupos naturais e à solução dos grandes
problemas materiais. Surgindo depois de Mussolini e de Hitler, ele afirma mais
fortemente o primado do espírito e mais alto se eleva, doutrinariamente, para
as verdades Eternas que cintilam na aurora dos novos tempos.
O Integralismo defende os princípios
básicos da civilização cristã ocidental. Como esses princípios fundamentam
todos ou quase todos os chamados fascismos, naturalmente com eles se cruza o
Integralismo aqui e ali. Os ignorantes em questões filosóficas e sociais ou os
de má fé poderão confundi-los. Os que os estudam e conhecem sabem que há
diferenças essenciais no modo de considerar as questões, as quais se refletem,
na prática, no modo de resolvê-las.
Tomemos como exemplo o Integralismo,
o Fascismo Italiano e o Nazismo Alemão. Os três têm os seguintes pontos de
contato: No terreno espiritual, são reações do espiritualismo contra o
materialismo, do nacionalismo contra o internacionalismo, do idealismo cristão
contra o naturalismo judaico puritano. No terreno econômico, são reações da
produção contra a especulação, da propriedade contra o capitalismo absorvente.
No terreno social, são reações contra as doutrinas unilaterais dos séculos
XVIII e XIX, liberalismo e comunismo. No terreno moral, são reações do nobre
sentido de trabalho honesto e sacrifício do cristianismo contra o sentido do
gozo material e do utilitarismo sem honra da burguesia judaizada e paganizante.
Todos três condenam as forças ocultas
que dominam o Estado, querem o Corporativismo, mantêm o direito de propriedade,
afirmam a soberania econômica, adotam a economia de plano, defendem a pátria,
garantem a família, detestam a usura e organizam as hierarquias.
Separam-nos, no entanto, diferenças
profundas. O Fascismo se enraíza na gloriosa tradição do Império Romano e sua
concepção do Estado é cesariana, anticristã. O estado nazista é também pagão e
se baseia na pureza da raça ariana, no exclusivismo racial. Apoiado neste,
combate os judeus. O Estado Integralista é profundamente cristão, Estado forte,
não cesarianamente, mas cristãmente, pela autoridade moral de que está
revestido e porque é composto de homens fortes. Alicerça-se na tradição da
unidade da pátria e do espírito de brasilidade. Combate os judeus, porque
combate os racismos, os exclusivismos raciais, e os judeus são os mais
irredutíveis racistas do mundo.
No fundo, o Fascismo, entroncando-se
na tradição romana, reveste-se dum caráter cesáreo e pagão. Cultua o
super-homem nietzschiano, que é a pianta uomo de Alfieri,
prendendo-se à hipertrofia dos grandes tipos do Renascimento. Do mesmo modo, o
Nazismo, estatuído sobre a tradição racial nórdica, toma um feitio nitidamente
odínico. Rende preito à força bárbara de invasão dos godos antigos. O
Integralismo traz em si o idealismo de três raças: o sonho das tribos andejas
dos tupis em busca duma terra feliz, o sonho da libertação dos escravos
arrancados aos sertões longínquos, o sonho de glória e riqueza dos
conquistadores e bandeirantes audazes. A benção do jesuíta uniu todos debaixo
da mesma cruz. Dos Guararapes ao Aquidabã, o sangue de todos os uniu no mesmo
destino. O seu culto é a cruz que juntou as três raças e os três sonhos.
O Estado Corporativo Brasileiro é uma
verdadeira democracia orgânica, pois resulta dos sufrágios dos sindicatos,
federações e corporações. A base do Estado reside na Família. Das Famílias
nasce o Município. E os Sindicatos se organizam nos Municípios. A organização
vem debaixo para cima, nasce do próprio povo.
O Estado Corporativo italiano já não
é assim. O impulso parte de cima. É o governo quem tudo organiza até o âmbito
familiar, de onde o movimento organizador volta novamente ao Estado, como um
reflexo. O mesmo se dá mais ou menos no Estado Corporativo nazista.
As corporações na Itália e na
Alemanha refletem o Estado; no Brasil, produzem o Estado.
Estudando-se bem as três doutrinas,
verificar-se-á que o Integralismo está num ponto em que não pode se aproximar
do Fascismo e do Nazismo sem perda de expressão; mas em que ambos podem evoluir
até ele.
(Transcrito
das págs. 13 até 18 de “O Integralismo e o Mundo” – 1ª edição – Rio de Janeiro
- Civilização Brasileira – 1936 – 290 págs.)
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