domingo, 26 de janeiro de 2014

Integralismo – nazismo – fascismo

Gustavo Barroso
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Ao internacionalismo individualista do século passado, quer permita a hipertrofia do indivíduo isolado ou em grupos com o capitalismo, quer dissolva o indivíduo na massa, deixando-lhe somente os interesses individuais, com o bolchevismo, sucede o universalismo personalista das doutrinas denominadas fascistas, as quais, na essência, respeitam a liberdade e a dignidade da pessoa humana, e se universalizam pelo seu espiritualismo. (...).

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De todos os movimentos de caráter fascista, e assim os denominamos por falta de expressão mais apropriada para a sua generalidade, o Integralismo Brasileiro é o que contém maior dose de espiritualidade e um corpo de doutrina mais perfeito, indo desde a concepção do mundo e do homem à formação dos grupos naturais e à solução dos grandes problemas materiais. Surgindo depois de Mussolini e de Hitler, ele afirma mais fortemente o primado do espírito e mais alto se eleva, doutrinariamente, para as verdades Eternas que cintilam na aurora dos novos tempos.

O Integralismo defende os princípios básicos da civilização cristã ocidental. Como esses princípios fundamentam todos ou quase todos os chamados fascismos, naturalmente com eles se cruza o Integralismo aqui e ali. Os ignorantes em questões filosóficas e sociais ou os de má fé poderão confundi-los. Os que os estudam e conhecem sabem que há diferenças essenciais no modo de considerar as questões, as quais se refletem, na prática, no modo de resolvê-las.

Tomemos como exemplo o Integralismo, o Fascismo Italiano e o Nazismo Alemão. Os três têm os seguintes pontos de contato: No terreno espiritual, são reações do espiritualismo contra o materialismo, do nacionalismo contra o internacionalismo, do idealismo cristão contra o naturalismo judaico puritano. No terreno econômico, são reações da produção contra a especulação, da propriedade contra o capitalismo absorvente. No terreno social, são reações contra as doutrinas unilaterais dos séculos XVIII e XIX, liberalismo e comunismo. No terreno moral, são reações do nobre sentido de trabalho honesto e sacrifício do cristianismo contra o sentido do gozo material e do utilitarismo sem honra da burguesia judaizada e paganizante.

Todos três condenam as forças ocultas que dominam o Estado, querem o Corporativismo, mantêm o direito de propriedade, afirmam a soberania econômica, adotam a economia de plano, defendem a pátria, garantem a família, detestam a usura e organizam as hierarquias.

Separam-nos, no entanto, diferenças profundas. O Fascismo se enraíza na gloriosa tradição do Império Romano e sua concepção do Estado é cesariana, anticristã. O estado nazista é também pagão e se baseia na pureza da raça ariana, no exclusivismo racial. Apoiado neste, combate os judeus. O Estado Integralista é profundamente cristão, Estado forte, não cesarianamente, mas cristãmente, pela autoridade moral de que está revestido e porque é composto de homens fortes. Alicerça-se na tradição da unidade da pátria e do espírito de brasilidade. Combate os judeus, porque combate os racismos, os exclusivismos raciais, e os judeus são os mais irredutíveis racistas do mundo.

No fundo, o Fascismo, entroncando-se na tradição romana, reveste-se dum caráter cesáreo e pagão. Cultua o super-homem nietzschiano, que é a pianta uomo de Alfieri, prendendo-se à hipertrofia dos grandes tipos do Renascimento. Do mesmo modo, o Nazismo, estatuído sobre a tradição racial nórdica, toma um feitio nitidamente odínico. Rende preito à força bárbara de invasão dos godos antigos. O Integralismo traz em si o idealismo de três raças: o sonho das tribos andejas dos tupis em busca duma terra feliz, o sonho da libertação dos escravos arrancados aos sertões longínquos, o sonho de glória e riqueza dos conquistadores e bandeirantes audazes. A benção do jesuíta uniu todos debaixo da mesma cruz. Dos Guararapes ao Aquidabã, o sangue de todos os uniu no mesmo destino. O seu culto é a cruz que juntou as três raças e os três sonhos.

O Estado Corporativo Brasileiro é uma verdadeira democracia orgânica, pois resulta dos sufrágios dos sindicatos, federações e corporações. A base do Estado reside na Família. Das Famílias nasce o Município. E os Sindicatos se organizam nos Municípios. A organização vem debaixo para cima, nasce do próprio povo.

O Estado Corporativo italiano já não é assim. O impulso parte de cima. É o governo quem tudo organiza até o âmbito familiar, de onde o movimento organizador volta novamente ao Estado, como um reflexo. O mesmo se dá mais ou menos no Estado Corporativo nazista.

As corporações na Itália e na Alemanha refletem o Estado; no Brasil, produzem o Estado.

Estudando-se bem as três doutrinas, verificar-se-á que o Integralismo está num ponto em que não pode se aproximar do Fascismo e do Nazismo sem perda de expressão; mas em que ambos podem evoluir até ele.

(Transcrito das págs. 13 até 18 de “O Integralismo e o Mundo” – 1ª edição – Rio de Janeiro - Civilização Brasileira – 1936 – 290 págs.)


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